Supreme Magus - Cap. 185

Capítulo 185: Assuntos dimensionais

 

Entre as aulas havia uma pausa de dez minutos que os estudantes podiam usar para relaxar, trocar anotações ou simplesmente alongar suas pernas um pouco. Lith estava ansioso para entender se uma ou mais das garotas ainda estavam bravas ou queriam se manter distantes dele.

O problema era introduzir o assunto sem se fazer soar preocupado ou, ainda pior, desesperado. Pelas experiências que ele teve em sua vida na Terra, ele aprendeu que garotas conseguem cheirar desespero a quilômetros de distância e elas geralmente são muito boas em explorar isso.

Antes dele conseguir pensar em uma forma apropriada de clarificar o relacionamento deles, Quylla falou com ele.

— Você realmente praticou Maestria em Forja sozinho?

— É claro que pratiquei — disse Lith, se sentindo levemente ofendido com o que aquela fala insinuava. — Mas fora coisas pequenas, eu não consegui criar muita coisa. Pelo contrário, eu desperdicei uma quantidade razoável de materiais, já que a Wanemyre me deixou tropeçando no escuro e não me falou nada do que eu precisava saber sobre a Maestria em Forja — disse Lith, rindo pelo nariz.

— Sério? — Quylla estava genuinamente surpresa. — Como sua família conseguiu pagar por um laboratório mágico? Isso não é algo que se vê com frequência perto de uma fazenda.

Lith percebeu seu deslize tarde demais. Ele não podia contar pra eles sobre a Solus e o laboratório customizado dela, então ele teve que improvisar.

— Eles não conseguem pagar por isso. Eu pratico em uma pequena clareira na floresta, perto da minha casa. Não é grande coisa, mas pelo menos é silencioso e isolado.

— Então você não pode colocar a culpa na Professora pelas suas falhas. Meu pai sempre diz que sem um laboratório mágico apropriadamente isolado, encantar itens é mais um tipo de aposta do que magia.

— Você está tendo aulas de Maestria em Forja com o Orion?

Quylla assentiu.

— É mais ele explicando o básico pra mim enquanto ele trabalha. Meu pai disse que seria bom eu estudar uma segunda especialização e que a Maestria em Forja ajuda a construir o caráter.

Isso deve ser verdade, já que ela conseguiu me olhar nos olhos o tempo inteiro sem corar. O Orion deve ter passado bastante tempo com elas para fazer a Quylla já estar chamando ele de pai.

— Aliás, como estava o seu boletim? — Quylla havia se tornado muito mais falante e direta comparada a como ela era no passado.

— Muito bom. Com apenas uma nota azeda.

— Deixa eu adivinhar — zombou a Friya. — Magia Dimensional?

— Adivinhou de primeira — sorriu Lith. — O Rudd te deu um A- também?

— O puto fez muito pior! — disse Friya, batendo seu punho na mesa, chamando a atenção da maioria da sala.

— Chiu! Na última vez eu não tive a oportunidade de contar pra vocês, mas de alguma formas os boletins de quem passou no segundo exame foram vazados para o público — sussurrou Lith. — A maioria dos nossos colegas de sala já estão com inveja do nosso sucesso, não dê a eles a oportunidade de te denunciar para o Rudd e dar a ele uma desculpa para abaixar suas notas mais ainda.

A notícia pegou todos eles de surpresa. Friya olhou para os colegas deles com raiva e apenas após respirar fundo algumas vezes, ela conseguiu se acalmar.

— O Yurial e a Phloria tiraram um A+, a Quylla tirou um A- igual você e eu tirei apenas um B+. — A voz dela estava baixa, mas suas mãos quebraram uma pena no meio de novo e de novo, até o maior pedaço ficar do tamanho de um feijão.

— É mais do que injusto — disse Phloria, entrando na conversa. — Nós estamos mais ou menos no mesmo nível, mas chegamos nesse nível apenas graças à Quylla ter nos dado aulas de verdade sobre magia dimensional e graças a você ter nos ensinado a executar uma conjuração múltipla direito.

“Vocês dois que deveriam ter uma nota maior, não eu e o Yurial. Aposto que o Rudd olhou primeiro para o status da nossa família primeiro e para nossa performance depois. A nota da Friya não faz sentido, a não ser que…”

— A não ser que ele esteja me punindo pelo o que minha mãe fez, insinuando que como eu pertenço a uma família de traidores eu devo ter trapaceado de alguma forma. — Friya completou a frase para a Phloria, raiva e tristeza ressoaram na voz dela.

— Acho que eu teria estourado uma veia de tanta raiva se não fosse por você, Lith. Muito obrigada. — Friya o abraçou de repente, fazendo com que as pessoas que estavam por perto começassem a fofocar sobre isso.

— O que foi que eu fiz, exatamente? — Lith foi pego de surpresa e não conseguiu entender nada sobre o que as palavras dela significavam.

— Você foi nosso supervisor durante o segundo exame, seu bobo. Você deve ter aumentado bastante o nível das nossas performances em seu relatório, senão, eu duvido que meu boletim teria ficado tão bom assim. — Ela entregou a ele um pedaço de papel, onde estava escrito:

“Friya Ernas:

Princípios da Magia Avançada: A-;

Maga Cavaleira: A-;

Cura: A;

Magia Dimensional: B+.

Pontos escolares ganhos através da avaliação diária: 3.362.

Pontos escolares ganhos através do segundo exame: 1000/1000.

Diretor Linjos.

A candidata demonstrou ter cabeça fria até mesmo sob situações estressantes, provou ser capaz de trabalhar em equipe com excelência e que é corajosa o bastante para colocar sua própria segurança em risco para garantir o sucesso da missão de sua equipe.”

Um após o outro, seus companheiros deram para Lith uma cópia de seus boletins. Todos eles tinham tirado a nota máxima no segundo exame, enquanto suas notas variavam entre A- e A +.

A única exceção era a Quylla, que havia tirado um S- como curandeira.

— Nós recebemos nossos boletins alguns dias atrás. Eu nunca esperei que fosse ser considerada uma maga de Rank A. — Quylla estava transbordando alegria. — Eu honestamente duvido que teríamos tirado a nota máxima se você tivesse contado pro Linjos como nós vomitamos até nossas tripas saírem pra fora depois que enfrentamos nosso primeiro grupo de goblins. Você nos descreveu como aventureiros destemidos? E se fez isso, como conseguiu convencer o Linjos disso?

Todos os olhos estavam fixados no Lith, ansiosos por uma resposta.

— Sinto muito por estourar a bolha de vocês pessoal, mas vocês estão superestimando minha habilidade de atuação e subestimando o Linjos. Ele nunca acreditaria numa história dessas, eu tive que contar a verdade pra ele. Especialmente depois do que ele fez com vocês durante o último teste.

“Eu queria que ele entendesse o quão difícil o exame inteiro havia sido para vocês e como apesar disso vocês conseguiram superar cada desafio sem minha ajuda.” Lith deu uma piscada.

“Eu simplesmente me esqueci de contar pra ele sobre quando vocês entraram em pânico, perderam o controle de um feitiço de relâmpago e sobre a noite quando todos vocês dormiram, me deixando sozinho para ficar de guarda, na vigília. E mesmo se eu tivesse contado isso pra ele, tenho certeza que vocês teriam tirado a nota máxima mesmo assim. Vocês não me devem nada.”

Assim que ele terminou seu discurso, Lith foi vítima de um abraço em grupo.

— Muito obrigada — disse Phloria. — Quando meus pais ouviram o Diretor elogiando meu talento como uma líder, minha mãe chorou de emoção e não me importunou mais até eu sair de casa para voltar pra academia.

Considerando que os boletins tinham chegado depois da visita do Lith, ele ficou ponderando o quão aterrorizante a Jirni Ernas tinha que ser para fazer com que dois dias sem a importunação dela fossem tão preciosos.

— É, cara — adicionou Yurial. — Ler meu boletim de novo e de novo, especialmente a parte onde o Linjos destacou minhas habilidades estratégicas contra os ogros me deu a força que eu precisava pra me levantar da minha cama e voltar pra academia.

“Fique tranquilo quando o Linjos nos chamar para o escritório dele para avaliar sua performance, nós devolveremos o favor por completo.”

Tomando cuidado com quem ele tocava e onde, enquanto estava preso na massa de corpos agarrados, Lith conseguiu soltar seus braços e devolver o abraço.

— Obrigado gente, mas não precisa. Apenas digam a verdade e tudo ficará bem. É claro, se vocês puderem evitar compartilhar minha perda seletiva de memória, seria perfeito.

O Professor Khavos Rudd entrou bem a tempo de ouvir as risadas que se seguiram após a fala do Lith.

Seu lábio superior esquerdo se dobrou em uma expressão desinibida de nojo.

Mas que merda, Linjos. Ver os herdeiros de famílias mágicas orgulhosas se misturando com plebeus sujos e uma vadia traidora me dá nojo. Antigamente, eu ensinaria a eles uma lição ou duas sobre respeitar a hierarquia e manter a linhagem de mana pura.

E para adicionar insulto à injúria, aqueles cincos estão não apenas no topo percentual desse ano, além disso aquele Lith é um dos favoritos da Rainha, como se o Linjos já não fosse o bastante. Eu não sobrevivi esse tempo todo antagonizando pessoas poderosas por motivos mesquinhos, mas os deuses sabe o quanto estou tentado a fazer isso apenas dessa vez.

— Sentem-se. A aula começou. — A voz austera do Rudd pôs um fim na conversa, forçando os estudantes a voltarem para seus lugares. — Meus queridos estudantes, eu gostaria de dizer que estou feliz em ver que ainda há tantos de vocês, mas a verdade é que não estou.

O tom da voz dele estava tão cheio de bile que poderia derreter aço.

— Em minha longa carreira eu tive muitas classes, mas essa é de longe a mais decepcionante. O único motivo pelo qual ainda há tantos de vocês aqui, é porque apesar da minha matéria ser obrigatória, minha avaliação é irrelevante para a promoção de vocês.

Alguns estudantes abaixaram suas cabeças, envergonhados. Os outros se mantiveram altivos, seja porque suas notas eram boas ou simplesmente porque eles não se importavam. O Professor Rudd já havia perdido o respeito e a admiração de muitos deles há muito tempo atrás.

Os nobres o viam como alguém incapaz de peitar o Linjos, os outros o viam como uma relíquia do passado. O viam como um velhote pomposo e irritante.

— Quem quer que já tenha conseguido conjurar Passos Dimensionais com sucesso levante a mão, por favor. — Um pouco menos da metade da sala respondeu à chamada. — Aqueles que ainda não dominaram o feitiço e às vezes falham na hora de conjurá-lo abaixem suas mãos, por favor.

Mal sobrou vinte mãos levantadas.

— Três meses de paciência e esforço rendeu a nós um resultado tão patético. Como alguns de vocês trabalharam duro enquanto o resto da classe ficou chupando o dedo, não vou mais desperdiçar meu precioso tempo.

“Vou explicar para vocês como transformar um Passos Dimensionais em um Blink ou em uma Troca e então todos nós iremos para o salão de prática. É melhor vocês anotarem, porque não vou ficar me repetindo.”

Rudd esperou apenas alguns segundos antes de continuar sua aula, muitos estudantes ainda tinham que pegar seus livros e tinteiros.

— Aqueles que realmente leram meu livro já devem ter percebido que os dois feitiços que livrarão vocês de mim de uma vez por todas são apenas mencionados, mas nunca descritos.

“Isso porque eles não são feitiços novos, são simplesmente variações na execução de Passos Dimensionais que requerem muito talento e habilidade na arte da magia dimensional. Vocês já sabem as palavras mágicas e os sinais de mão. Vocês só precisam dar um último passo.

“Para transformar um Passos Dimensionais em um Blink, tudo que você precisa fazer é mover o Portal de entrada na sua direção e fechá-lo assim que você atravessá-lo. O feitiço Troca é a mesma coisa, mas requer a criação de dois conjuntos de portais se movendo na mesma velocidade e que levam para quase as mesmas coordenadas.

“Quase ninguém consegue fazer isso, é por isso que aprender Troca é puramente opcional, enquanto aprender Blink não. Para fazer um Portal se mover, você precisa usar o outro como uma âncora e esticar o corredor dimensional sem fazer ele colapsar.

“Isso requer que você aumente o fluxo de energia, adicionando magia de fogo no último momento e mais uma injeção de magia de ar, terra e água, para que o equilíbrio permaneça inalterado.

“Com o consumo a mais de mana e a velocidade necessária para fazer isso funcionar, Blink tem um alcance de 30 metros no máximo, apesar de consumir a mesma quantidade que seria necessária para criar um Portal que cobre um quilômetro de distância.

“Troca é parecido com um Blink feito duas vezes, mas com um único feitiço.

“Adicionado magia da luz e das trevas em partes iguais durantes os primeiros passos do feitiço, é possível induzir uma ressonância que dobra o número de núcleos de energia, criando dois pontos de entrar e dois de saída.

“Usar seis elementos em tão pouco tempo não apenas é um feito raro, mas também requer muito foco. Por isso seu alcance é mais limitado ainda a 10 metros e precisa de um campo de visão claro entre o conjurador e o alvo.”

Após terminar sua explicação, o Professor Rudd levou eles através de Portais para o salão de treino, dividindo os estudantes em grupos de acordo com o nível de habilidade deles.

Mais de uma hora se passou, muitos Portais foram abertos, mas ninguém conseguiu Blinkar.

Meia hora depois, para a surpresa de todos, Friya desapareceu de onde estava e reapareceu alguns metros mais longe. Em uma questão de minutos após isso, ela conseguiu Blinkar várias vezes seguidas.

O Professor Rudd estava fervendo de raiva, mas conseguiu esconder suas emoções e até a parabenizou, encorajando a classe a seguir o exemplo da Friya.

Antes do Lith ser forçado para dentro de outro abraço em grupo, um berro furioso ressoou pelo salão.

— Isso não é justo! Ela trapaceou! — Lyam Lukart caminhou em direção a ela como se quisesse bater nela, mas apesar de ser 15 centímetros menor que ele, Friya permaneceu firme, com sua mão descansando na empunhadura de sua espada. — Ela trapaceou e eu posso provar!