Supreme Magus - Cap. 182
Capítulo 182: Lado bom
— O motivo pelo qual estamos tendo tanta dificuldade com coisas como Alquimia e Maestria em Forja é porque estamos entendendo tudo errado. Desde o momento em que pisamos dentro da academia, estivemos olhando para o problema do ângulo errado.
“Magia falsa e todas as suas ramificações são estritas, cheias de regras e limitações que um mago nunca poderá superar. Magos falsos não podem mudar o formato, tamanho ou até mesmo a temperatura de uma bola de fogo, a menos que eles reescrevam o feitiço do zero.
“A magia verdadeira, ao invés disso, é um fluxo livre. Não há um número configurado de passos ou limites para o que você pode fazer, contanto que você tenha a força mental e a imaginação para fazer isso acontecer. Nosso problema desde o começo é que estamos tentando vencer nesse jogo seguindo as regras dele ao invés de fazermos nossas próprias regras.
“A maioria das coisas que aprendi na academia sobre feitiços de nível quatro são redundantes.
“Eu poderia ter performado por conta própria tudo que eles explicaram até agora nas aulas de Curandeiro, Magia de Combate e Magia Avançada. Eu simplesmente não tinha a engenhosidade necessária para ligar os pontos entre o que eu já sabia sobre o nível três e abaixo.
“É por isso que assim que eu aprendi o truque por trás de recrescer um membro ou compartilhar energia vital, eu já fui capaz de fazer isso melhor usando magia verdadeira. Porém, a Maestria em Forja é algo no qual eu sou profundamente ignorante, por isso cometi esse erro.
“Ao invés de focar nas runas e nos círculos, eu deveria ter tentado entender a lógica por trás do número e posicionamento dos caminhos de mana. Eu deveria ter estudado que tipo de forma e propriedades um pseudonúcleo precisa para conceder ao item encantado seus efeitos.
“Assim que eu conseguir isso, não precisarei de nenhuma runa ou de recitar os encantamentos. Terei apenas que gravar os caminhos e então criar o pseudonúcleo adequado para estes caminhos.”
— Acho que você está certo — disse o orbe da Solus. — Eu deveria ter pensado nisso quando consegui criar meus próprios círculos mágicos sem usar a tinta especial da Professora Wanemyre. Se não precisamos da tinta para os círculos, não há motivo para as runas serem diferentes. Pelo meu criador, como eu pude demorar tanto para entender isso?
— Não pegue muito pesado consigo mesma, Solus. Você é de fato a mais inteligente aqui, mas já faz mais de um ano que você está sofrendo de depressão por causa da sua condição. Sem mencionar a forma como você está sempre cuidando de mim, gerenciando minha vida social e me ajudando com magia. Sabe, eu acho que você é uma das pessoas mais gentis que eu já conheci.
O orbe da Solus girou de alegria ao redor da sala. Ser chamada de pessoa ao invés de uma coisa foi o que mais a deixou feliz. Lith sentiu isso e em seguida se encontrou pensando alto.
— Sabe uma coisa engraçada que nós temos em comum? Ainda temos que descobrir o que exatamente nós somos. Você não é um artefato nem um item amaldiçoado, porque você tem uma mente própria. Enquanto eu pareço ter o corpo de um homem, a moral de uma fera e a alma de uma Abominação.
Solus gostou da ideia do laço deles ir além de seu relacionamento simbiótico com ele, mas não da direção sombria que os pensamentos do Lith estavam tomando, então ela se apressou para mudar de assunto.
— O que você estava dizendo mesmo sobre Maestria em Forja? Que podemos pular a teoria do Gantzwell e trabalhar nos pseudonúcleos?
— Bem que eu queria — suspirou Lith. — Isso exigiria uma quantidade massiva de conhecimento e experiência que nós infelizmente não temos no momento. Até eu conseguir colocar minhas mãos em uma variedade de itens mágicos e estudar suas propriedades, estamos presos com a Maestria em Forja falsa.
“Mas agora que sabemos as regras do jogo, há algumas que temos que obedecer, algumas que podemos distorcer e outras que podemos ignorar trapaceando. Deixa eu te mostrar.”
Lith colocou na mesa de Maestria em Forja um dos anéis baratos que ele tinha encantado para transformar em itens dimensionais, enquanto Solus usava Revigorar para puxar a energia do mundo e usá-la para preencher o espaço ao redor do anel com mana.
Em seguida, Lith tirou da dimensão de bolso um dos vários pequenos martelos que ele havia pedido para o Zekell preparar para ele. O martelo tinha uma cabeça de metal e um cabo de madeira, era o tipo de martelo que se usa para pregar um prego em uma parede.
— Na verdade eu tinha planejado encantar esses martelos e transformá-los em armas para minha família, mas eles devem funcionar bem para meu experimento também. Solus, seu controle sobre a mana dentro da torre é restrita a círculos?
— Não, essa é apenas a forma que estou mais acostumada a projetá-la, já que sempre seguimos as regras da Maestria em Forja.
— Ok. Preciso que você imbua o martelo que estou segurando com um pouco mais de mana que o que está guardado no círculo.
Solus não fazia ideia do que Lith estava planejando, mas fez o que foi instruída a fazer. Tal quantidade de mana estava muito abaixo das capacidades dela. O martelo pulsou com um brilho azul, emitindo um som vibrante baixo.
Lith focou nas energias místicas, fazendo elas se submeterem à sua vontade e assumirem a forma da primeira runa antes de fazê-las colidirem com as que estavam contidas dentro do círculo mágico.
Faíscas voaram por todo o laboratório enquanto as energias conflitantes geravam uma explosão de luz ciano que quase cegou Lith. Cada colisão produzia uma nova explosão de luz, gravando outra runa dentro do anel, o que criou caminhos de mana mais amplos e fortes do que Lith jamais havia criado.
O breve contato permitiu que as energias místicas permanecessem estáveis, mas teve um grande custo para a ferramenta e seu portador.
Na terceira runa, o martelo se esfarelou. Os materiais baratos ficaram sob muito estresse devido a mana altamente comprimida forçada para dentro de sua estrutura. Cada colisão era como bater o martelo contra um trem vindo em sua direção na velocidade máxima.
Lith pegou outro, dessa vez um com cabeça e cabo de aço, que a Solus mais uma vez preencheu de mana até o talo sem deixar Lith perder seu ritmo. Aço provou ser um condutor de mana melhor, permitindo que ele modelasse as runas com menos esforço e durasse cinco golpes.
Merda! Oito já foram, faltam sete. Próximo! Lith não podia desperdiçar seu tempo falando, pensar era muito mais rápido. O terceiro era um pequeno martelo decorativo banhado em prata que Lith tinha comprado como um presente de fim do ano acadêmico para a Professora Wanemyre.
Puta que pariu! A aleatoriedade me odeia, de todo o lixo que eu comprei eu tinha que escolher o único caro. Essa é minha sorte, mesmo. O martelo não era tão caro assim, Lith estava apenas sendo mão-de-vaca.
Ainda assim, ele estava com pressa, o anel barato não conseguiria resistir por muito mais tempo, o que não deu a ele o tempo necessário para trocar de martelo antes de continuar o processo. Para a surpresa dele, a prata era não apenas um condutor de mana muito melhor, mas também de alguma forma dispersou o excesso de energias, reduzindo o coice das explosões.
Lith completou o anel sem a necessidade de mudar de martelo novamente. Quando ele examinou o produto final usando Revigorar, ele descobriu que o experimento havia sido um sucesso em partes.
Apesar dele ter usado os requerimentos de encantamento para itens dimensionais de qualidade de classe média, capazes de armazenar cerca de 10 metros quadrados de espaço, o item que eles obtiveram com a técnica híbrida usando tanto magia falsa quanto magia verdadeira era um de alta qualidade, com um espaço interno de quase 30 metros quadrados.
O problema estava nos caminhos de mana desiguais que estavam ao redor do pseudonúcleo.
— Merda. Apesar de você ter usado a mesma quantidade de mana para cada martelo, materiais diferentes produziram resultados diferentes. O pseudonúcleo foi infundido enquanto eu estava usando o martelo de prata, então ele é forte demais para os caminhos que gravei usando os dois primeiros martelos.
“Ou eles serão incapazes de manterem suas energias e isso fará com que ele perca progressivamente suas propriedades mágicas ou o núcleo ficará instável com o tempo e explodirá. Com a minha sorte, aposto meu dinheiro na explosão.
— Ainda é um sucesso — disse a Solus. — O martelo banhado em prata durou sete golpes antes de se despedaçar. Talvez um martelo de prata maciça conseguiria durar o suficiente para todas as treze runas, isso se não durasse por mais de um item.
— Talvez e talvez não — suspirou Lith. — Prata é um metal dúctil e maleável. Ele pode acabar se deformando após uma única runa, se tornando inútil. Vale a tentativa, mas custará uma boa grana.
— Bem, o lado bom é que se coletarmos todos os pedaços você pode mandar derretê-los para formar um novo martelo.
Ao longo dos próximos dias, antes da pausa da academia acabar, Lith performou incontáveis experimentos em várias matérias. Seguindo o conselho da Solus, ele comprou um martelo de prata, enquanto seguia os costumes dos RPGs da Terra ele também comprou um martelo banhado a ouro.
Apenas os materiais custaram três moedas de ouro, mas em todos os jogos que ele havia jogado itens de ouro performavam melhor do que itens de prata. Para a decepção dele, ouro acabou sendo um condutor de mana terrível, sem durar um único golpe sequer antes de ser pulverizado.
Após xingar os criadores de Dungeons & Looting por um tempo, ele experimentou o martelo de prata. Ele o permitiu produzir o primeiro anel dimensional de alta qualidade da sua carreira de Mestre de Forjas.
Os impactos eram mais mágicos do que físicos em sua natureza, então o martelo era talhado mas não destruído. Lith conseguiu usá-lo várias vezes antes de mandar reforjá-lo.
— Ou nós precisamos de uma liga de prata mais resistente ou precisamos encantar o martelo para deixá-lo mais durável. Cedo ou tarde Zekell perguntará o que você está fazendo para reduzi-lo a um estado tão deplorável e você não tem uma desculpa plausível — disse Solus.
Quanto mais eles aprendiam sobre a Maestria em Forja, mais perto Lith chegava de abrir as caixas. Ele nunca recebeu uma visão para mostrá-lo que o futuro havia mudado, então ele nunca se esqueceu delas.
Lith e Solus tentaram replicar o efeito de sincronização que tinham experienciado contra a Scorpicore, quando ela assumiu sua forma brilhante pela primeira vez, mas não conseguiram.
A luva de pedra simplesmente agiu como uma luva de pedra, seus corpos estavam conectados mas seus núcleos de mana pareciam estar separados por milhas e estavam felizes assim.
Ele não recebeu uma visita ou uma chamada de seus amigos em momento algum e isso o deixou bastante abatido.
Assim como o Yurial disse, já era tarde demais. Esse barco já deve ter partido faz tempo. Lith pensou.
Ou talvez eles precisem de um tempo para organizar seus sentimentos. Pontuou Solus. Yurial e Friya têm muitas coisas sérias para refletir, enquanto a pobre Quylla provavelmente ainda está se recuperando de ser tratada apenas como uma amiga daquele jeito. A Phloria é a única que não tem nenhuma desculpa. Pensei que ela fosse melhor que isso.
Após dizer adeus para seus amigos e família, Lith voltou para a Academia Grifo Branco, para o último trimestre do ano.