Supreme Magus - Cap. 172
Capítulo 172: Encontro inesperado
Quando o grupo despertou, o número de bocejos deixou todo mundo alerta. Eles perceberam instantaneamente que ninguém havia ficado de guarda, deixando eles completamente indefesos exceto pela presença do supervisor deles, que supostamente era neutro.
Phloria e os outros se sentiram tremendamente envergonhados, mas nada podia se comparar à exaustão e o nojo que ainda persistia em suas mentes. Apesar de terem usado magia das traves para limparem suas bocas e dentes antes de irem dormir, eles ainda conseguiam sentir o gosto de vômito e sangue.
— Como vocês estão se sentindo agora? — perguntou Phloria.
— Como um pano de chão encardido — respondeu Friya, fazendo com que os outros concordassem com ela.
— Pelos bons deuses Lith, você realmente faz esse tipo de coisa para ganhar dinheiro?
— Sim, é parte do trabalho — assentiu Lith. — E logo será parte do trabalho de vocês também, exceto talvez pela Quylla. Friya e Phloria, vocês são Magas Cavaleiras, suas espadas não foram feitas para assustar ou proteger, elas foram feitas para matar.
“Yurial, como um Lorde Feudal e um mago com a especialização de guardião, você terá as vidas de ambos seus inimigos e aliados em suas mãos. Quylla, mesmo se você escolher se tornar uma acadêmica, como o Professor Marth ou o Manohar, você ainda precisará saber se defender.”
O grupo ponderou sobre as palavras do Lith e as implicações do teste. Eles tinham treinado por anos com bonecos de treino ou parceiros de treino, sem nunca entender completamente o verdadeiro objetivo das habilidades deles.
Linjos estava forçando seus estudantes a colocarem suas habilidades em prática, para experienciar as consequências de suas escolhas até aquele momento, antes de decidirem que caminho eles queriam tomar para o futuro de suas vidas.
— Antes de seguirmos em frente, tem mais alguma coisa que a Quylla e eu precisamos saber sobre nossas novas armas? — perguntou Friya. Não havia nenhum ressentimento ou raiva na voz dela, mas Phloria se sentiu culpada mesmo assim.
— Desculpa por não ter contado antes. — Ela ficou vermelha de vergonha.
Pelos Deuses, eu sou tão estúpida. Phloria pensou. Agora eu tenho que ser não apenas a líder delas, mas também a irmã mais velha. Não ter ensinado a elas sobre as lâminas customizadas da família Ernas foi um grande erro da minha parte.
— É só que os presentes do meu… quer dizer, do nosso pai, junto com esse exame me deixaram tão atônita que eu me esqueci completamente. Nossas armas foram forjadas e encantadas usando uma técnica secreta da família Ernas.
“Essa técnica faz com que elas sejam anormalmente afiadas, permitindo que até uma arma leve como seu florete corte tão bem quanto ele perfura. Você não está mais limitada a estocadas. Contanto que seu oponente não esteja usando uma armadura pesada, você também pode cortar.
“A técnica também faz com que elas fiquem resistentes o bastante para cortar através de uma rocha sem ter um único arranhão. E por último, mas não menos importante, elas têm uma habilidade limitada de mudar de tamanho para se adaptar a espaços apertados, sem atrapalhar seu portador. Mas eu não conheço os detalhes por trás da técnica. Não sou uma Mestra de Forjas.
“Quylla, sua faca longa pode se transformar em uma espada curta se você precisar de mais alcance em uma batalha.”
Quylla assentiu, experimentando a habilidade para ver por si mesma. Os movimentos dela estavam meio travados, mas a lâmina era leve e fácil de usar, dando a ela um senso de segurança.
— Posso ver, por favor? — Lith estendeu sua mão para a Friya, que passou seu florete para ele.
Lith usou Revigorar na arma, estudando seu pseudonúcleo complexo. Ele ainda não era nenhum espadachim, mas até ele podia apreciar a fineza do trabalho que havia sido feito. Ele a usou contra uma pequena rocha, que foi facilmente perfurada, produzindo um barulho de silvo.
A lâmina estava intacta, e com a Visão de Fogo, após ficar de costas para o grupo, ele conseguiu ver a lâmina ficando verde por um segundo.
— Não sei como seu pai conseguiu realizar o deslocamento de massa, mas acho que tenho uma ideia ou duas de como ele fez o resto. A arma foi encantada com magia de ar, a fazendo vibrar quando golpeia e encantando a efetividade do fio da lâmina.
“Além disso, não acho que ela realmente seja mais resistente que uma lâmina normal, na verdade ela absorve os impactos e dissipa a energia deles como calor, usando magia de terra.”
Lith ficou impressionado com os efeitos que a Maestria em Forja podia aplicar. Escudos cinéticos e armas com alta vibração eram coisas que ele havia apenas lido em livros de ficção científica.
— Dã, é claro! — respondeu a Phloria. — Todo mundo sabe que elas são encantadas com magia de ar e terra, mas não como. Além disso, eu não entendi uma palavra das bobagens que você acabou de dizer.
Lith suspirou, ele não conseguiria explicar pra eles o que a energia cinética e potencial eram, nem como a frequência de vibração poderia afetar matéria sólida. Eram todos termos que não existiam no novo mundo.
Seria como tentar explicar a televisão para alguém que não sabe nada sobre eletricidade ou ondas, então ele deixou o assunto pra lá e devolveu a arma pra Friya.
— Eu tenho algo a dizer — Yurial entrou na conversa. — Como estamos em uma masmorra, é melhor evitar usar magia de fogo. Não tem muito ar aqui pra começo de conversa, então poderíamos acabar sufocados se consumirmos muito ar. Além disso, apesar das bolas de fogo serem a melhor amiga de um mago, tanto as chamas quanto o barulho podem acabar ricocheteando nas paredes.
“Só o barulho poderia nos deixar surdos, sem mencionar que apenas o conjurador estaria imune dos efeitos diretos do feitiços, enquanto o resto do grupo sofreria com o calor. Foi assim que o termo “fogo amigo” foi criado, afinal.”
Yurial sentiu que ele tinha que se provar útil para redimir sua honra. Até agora, ele havia sido tão inútil quanto a Quylla, mas ela era só uma curandeira sem nenhuma especialização. Sem mencionar o fato de que ela era três anos mais nova que ele.
— Todos esses argumentos são sólidos — assentiu Phloria. — Agora precisamos coordenar nossas ações, não podemos repetir os erros de antes.
O grupo passou a próxima horia fazendo planos e preparações para o resto da viagem.
Na nova formação, Phloria caminharia na frente, pronta para bloquear qualquer ataque inimigo. Quylla foi encarregada de segurar o mapa e tomar nota dos movimentos deles, já que ela era a única além do Lith que conseguia escrever com magia de água.
Friya e Yurial trocaram de lugar, permitindo que ela ajudasse facilmente a Phloria ou protegesse a Quylla. Não demorou muito para eles encontrarem outro grupo de goblins, mas dessa vez as coisas foram bem diferentes.
Phloria botou fogo em seu escudo torre para bloquear o caminho dos goblins, enquanto Quylla e Friya usaram magia de nível um para cortar e perfurar seus agressores com fragmentos de gelo e lâminas de ar. Algumas das criaturas tinham estilingues e arcos, mas os projéteis delas foram facilmente defletidos pelo escudo de ar do Yurial.
Eles conseguiram limpar o corredor logo após a luta acabar, mas Friya e Quylla vomitaram mesmo assim. As feridas feitas por magia eram ainda mais macabras do que aquelas feitas por espadas e elas ainda não tinham se acostumado às tripas espalhadas e cotocos sangrentos.
Quanto à Phloria e ao Yuri, o orgulho deles era mais forte do que o enjoo.
Nas horas seguintes, eles encontraram mais e mais covis de goblins e foram melhorando a cada encontro, ao ponto de nenhum inimigo conseguir sequer chegar no escudo da Phloria mais. Ainda assim, Lith estava decepcionado.
Eles sempre faziam uma bagunça na caverna, precisando de vários feitiços cada um para terminar o serviço.
— Deixa eu dar uma dica pra vocês, gente.
Graças à Visão Vital, Lith sabia que eles estavam prestes a encontrar outro covil composto de cerca de vinte goblins, então ele foi para a frente.
— Vocês já limparam covis maiores, então isso não deve afetar de forma alguma a nota de vocês. Por favor, observem.
Lith deixou os goblins correrem em direção a ele, sem oferecer nenhuma resistência, até o momento em que ele bateu uma vez no chão com seu bastão, fazendo a umidade da caverna coalescer em uma camada de água no chão. Uma segunda batida a transformou em gelo.
Goblins não faziam ideia do que era gelo então eles continuaram a investida, caindo de cabeça no chão por causa da superfície que estava escorregadia, sem conseguir se levantar. Uma terceira batida do bastão no chão transformou o gelo em lâminas que se afundaram nos olhos, corações e cérebros dos goblins, os matando imediatamente.
O grupo ficou impressionado, todos ficaram surpresos, de boca aberta.
— Isso foi primeira magia? — perguntou Yurial, ainda sem conseguir acreditar em seus próprios olhos.
— Sim. É por isso que vocês devem lutar sem recitar, sem usar sinais de mão, sem dar avisos ao alvo.
Após checar com a Visão Vital que não havia mais ninguém por perto, Lith se virou, ficando cara a cara com seus amigos.
— Vocês são assim como eu era até alguns anos atrás. Vocês usam a magia como um porrete, ao invés de usá-la como um bisturi. Caso seja usado corretamente, o feitiço mais simples pode ter o efeito mais destrutivo.
— A Lady Nerea te ensinou magia desse jeito?
— Não. Eu tive… um encontro sortudo. — Lith não tinha outra forma de explicar seu domínio da magia. Ele havia aprendido com lutas de vida ou morte contra o Irtu e a Gerda, e lutando lado a lado com o Protetor.
Se ele não tivesse encontrado tantas feras mágicas, ele não seria metade do mago que ele era.
Lith os deixou para ponderarem sobre suas palavras e voltou para seu lugar na retaguarda.
Mesmo que as lutas estivessem ficando mais fáceis, ainda era cansativo, tanto fisicamente quanto psicologicamente, então o grupo descansou novamente, dessa vez com uma ordem apropriada de vigília. Lith não dormiu, apenas fingiu que estava dormindo e usou Revigorar para recuperar sua força.
Quando eles começaram a se movimentar novamente, eles passaram por vários corredores e cavernas, às vezes acabando em locais sem saída, mas nunca se perdendo, graças ao mapa que eles estavam fazendo. Eles continuaram encontrando rastros de lutas passadas e ossos de goblins mastigados até ficarem limpos, mas não encontraram nenhum inimigo.
Phloria conseguia sentir a tensão no ar, eles estavam entrando dentro do território de um predador maior.
— Espera! — disse Yurial, parando o grupo — O próximo canto é estreito demais. Se formos atacados enquanto estamos atravessando ele, o grupo se dividiria em dois, dificultando que a gente se coordene apropriadamente.
— Eu sei, mas não é como se pudéssemos alargá-lo ou ver através das paredes — respondeu Phloria.
Lith sorriu por dentro, já que ele tinha acabado de fazer isso com a Visão Vital.
— Verdade, mas nós podemos ajustar o tabuleiro apropriadamente para esta situação. Só é uma emboscada se você não estiver ciente dela.
Yurial conjurou uma formação mágica após a outra, marcando as fronteiras dela com a primeira magia para fazer com que seus colegas de equipe as encontrassem mais facilmente. Quando ele terminou, phloria se moveu vários passos na frente dos outros, mantendo o escudo levantado na frente dela e pronta para recuar.
Ela deu uma olhada para ver o que estava atrás do canto, descobrindo um corredor curto que levava à outra curva fechada. Phloria estava prestes a dar um sinal para os outros seguirem em frente, quando ela ouviu sons de uma batalha.
Ela ouviu berros e gritos em uma língua gutural que ela foi incapaz de identificar. A fonte do barulho estava se aproximando cada vez mais, até que um grupo de criaturas humanoides investiu em direção a ela.
Eles eram todos muito altos, acima de 2 metros de altura, com corpos musculosos que poderiam se passar por humanos se não fosse pela pele verde, o cabelo vermelho pontudo e as orelhas e narizes longos e pontudos.
— Ogros! — gritou Phloria.
— Um-pha! — gritou um ogro, apontando pra ela com um dedo que terminava em uma garra.
Ao contrário dos goblins, eles vestiam roupas, em sua maior parte feitas da pele de outros ogros, goblins e qualquer coisa que eles geralmente comiam. Um ogro vestindo um colar feito de caveiras de animais pequenos balançou um bastão enorme em direção ao local onde Phloria estava se escondendo.
— In-foi! — Uma bola de fogo voou do bastão, dando a Phloria apenas tempo o suficiente para dar um passo pra trás e se proteger atrás de seu escudo torre antes de ser engolida pela explosão. O escudo mágico dela foi despedaçado, mas ainda segurou o impacto do feitiço.
Seu uniforme estava queimado em mais de um lugar e suas orelhas estavam zunindo, fazendo com que fosse difícil para a Phloria manter seu equilíbrio. Friya foi para a frente, enquanto Quylla começou a curar sua amiga ferida e Yurial conjurava outra formação.
Assim que os ogros pisaram dentro da primeira formação, Yurial a ativou, transformando o espaço em que eles estavam em uma tempestade de raios que queimou vários até ficarem tostados, relâmpagos atacaram os ogros de todas as direções. Até os sobreviventes não saíram ilesos.
Os ogros já estavam ansiosos pelo gosto raro de carne humana quando a segunda formação ativou, transformando o chão em areia movediça, fazendo eles se afogarem.
Isso! Yurial pensou. Uma vitória limpa, sem ter que atacar uma vez sequer. Guardiões são foda!
O ogro xamã era tão esperto quanto cruel. Ele havia sobrevivido à tempestade de raios usando os outros ogros como escudo de carne enquanto conjurava um feitiço protetor de terra apenas para si mesmo, proteger outros necessitaria de tempo e compaixão, e ele não tinha ambos.
Ele também sobreviveu à areia movediça usando os outros como degrau e balançou seu bastão como um porrete em direção ao inimigo mais perto, a Friya.
Apesar de estar ferido e ser menor que os outros ogros, o xamã ainda bateu com a força do coice de um cavalo, quase despedaçando o escudo mágico com o impacto.
Friya estava em desvantagem, o oponente era mais pesado, mais forte e tinha um alcance de ataque maior que o dela, já que o bastão tinha mais de 2 metros de comprimento. O xamã continuou o ataque com um chute, a pegando despreparada, mandando ela capotando pro chão.
O xamã sorriu e investiu para frente, pronto para esmagar o crânio dela como um melão.
— Joruna Harti!
As lanças de gelo da Quylla perfuraram o ogro por todos os lados. Sangue instantaneamente gorgolejou de sua boca enquanto seus joelhos batiam no chão, sem mais força nenhuma para ficar de pé.
Lith se sentiu elogiado, o feitiço se parecia muito com o Lanças Xeque-Mate dele.
— In-foi! — O xamã balançou seu bastão uma última vez, relutante em morrer sozinho.
Infelizmente para ele, o Yurial já havia terminado uma formação muito pequena que negava magia de fogo. Ele havia preparado ela desde o momento em que ele havia percebido que um dos inimigos era louco o bastante para usar magia de fogo dentro do corredor.
O xamã olhou para seu bastão com uma expressão atônita, a dor da traição de seu único verdadeiro amigo apareceu em seu semblante rústico.
Friya expressou suas condolências perfurando a cabeça dele com um único movimento fluido.
O grupo estava prestes a celebrar, quando outra coisa passou pelo canto.
Parecia um jacaré, mas era humanoide. Era bípede, tinha pelo menos 2 metros e 50 de altura, sem contar a cauda.
Estava usando um cinto onde estavam pendurados vários amuletos, enquanto suas mãos carregavam um machado de duas lâminas e um martelo machado. Ele estava mastigando o que parecia ser a coxa de um ogro, que ainda estava sangrando.
Ele encarou eles com um olhar brincalhão, antes de tirar a coxa da sua boca e dizer:
— Ah, carne fresca!